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FUNÇÃO DA CIDADE
Lewis Mumford

A principal função da cidade é converter o poder em forma, a energia em cultura, a matéria inanimada em símbolos vivos de arte, a reprodução biológica em criatividade social. As funções positivas da cidade não podem ser levadas a cabo sem que se criem novas disposições institucionais, capazes de enfrentar as energias enormes que hoje o homem moderno domina: disposições de uma ousadia tão grande quanto aquelas que, nos primeiros tempos, transformaram a aldeia supercrescida e a sua fortaleza na cidade nucleada e altamente organizada.
CIDADES SEM NOME
Fernanda Câncio

Qualquer coisa de abandono nas ruas, nos montes de terra esquecidos, nas obras de há muitos ou poucos anos, nas quintas que fazem fronteira à espera de loteamento, na paragem de autocarro onde alguém se resigna há quarenta minutos, no ar quieto, dormente. Qualquer coisa de melancólico nos comércios, na boutique das novidades, no minimercado que vende de tudo, no infantário de janelas mickey. Qualquer coisa de desespero na distância daqui para fora. Qualquer coisa de nada na estrada que aqui passa a três ou quatro setas de uma cril ou uma crel, a duas ou três paragens de autocarro de uma estação de comboios, a uma ou duas horas dos empregos, dos escritórios, das escolas, das fábricas, dos cinemas, dos bares, das lojas, dos museus, dos hipermercados. Do mundo?
(...) Esses espaços que só se definem na sua distância a um qualquer centro existirão mesmo? E que centro será esse? Por fim, ou por princípio, como identificar o que não tem identidade, aquilo que faz identidade de não a ter?
(...)
Talvez sejamos todos suburbanos. Mas uns, como no ditado orweliano, são mais que os outros.
INTERNACIONAL SITUACIONISTA
Daniela P., Filipa B., Lisa M., Raquel S.

Os Situacionistas pretendiam um espaço além do mero espaço de habitação; uma área de intensa atmosfera urbana. As partes da cidade de Paris representadas nos mapas situacionistas de Guy Debord e Asger Jorn (“Guia Psicogeográfico de Paris” e “The Naked City”) são exemplo de tais unidades. Estas eram constituídas por diversos elementos mutáveis como o jogo entre presença e ausência, de luz e som, de actividade humana, do próprio tempo, e da associação de ideias. (...)

O exemplo máximo da arquitectura situacionista é a “Nova Babilónia” de Constant, que se contrapõe aos modelos da cidade clássica e aos modelos modernistas, propondo o espaço urbano como espaço de encontro entre os cidadãos, espaço que favorece as actividades lúdicas e aberto à sociedade em mutação. (...)

O território ao deixar de ser vivido, deixa de ter sentido.


Deriva
O meio preferido dos Letristas era a deriva pela cidade como forma de conhecimento, experiência e simultaneamente divertimento, e os indivíduos, durante a deriva, encontravam-se por vezes de tal forma embrenhados, que se conhecem casos de derivas com durações de 3 e 4 meses. Da mesma forma que o tempo não era limitado, o espaço ficava ao critério dos intervenientes e das suas predisposições momentâneas, num misto de acaso, vontade e acção. (...)
A concepção situacionista da cidade como um lugar de movimento nómada e de desorientação reflecte-se de uma forma mais complexa nos tais mapas psicogeográficos feitos por Debord e Asger Jorn em 1957, que reconstroem o espaço metropolitano como um sistema de zonas unidas por setas ou vectores de desejo. Ou seja, eles não se concentravam em organizar a cidade mas sim em expressar exactamente a vida desta. Apesar da primeira camada se mostrar aparentemente desorganizada, ao avaliar melhor o mapa, ao seguir a deriva e ao se conhecer a cidade, é possível entender o sentido do mapa criado.
A CIDADE GENÉRICA
Rem Koolhaas

1.1. Será a cidade contemporânea como o aeroporto contemporâneo “igual a todos os outros”? Será possível teorizar essa convergência? E em caso afirmativo, a que configuração definitiva aspirar? A convergência é possível apenas à custa do despojamento da identidade. Isso é geralmente visto como uma perda. Mas à escala em que isso acontece, tem de significar algo. Quais são as desvantagens da identidade e, inversamente, quais as vantagens da vacuidade? E se esta homogeneização aparentemente acidental – e geralmente deplorada – fosse um processo intencional, um movimento consciente de distanciamento da diferença e aproximação da semelhança? E se estivermos a assistir a um movimento de libertação global: “abaixo o carácter!” O que resta se removermos a identidade? O Genérico?

1.2. Na medida em que a identidade deriva da substância física, do histórico, do contexto e do real, de certo modo não conseguimos imaginar que algo contemporâneo – feito por nós – contribua para ela. Mas o facto do crescimento humano ser exponencial implica que o passado se tornará em dado momento demasiado “pequeno” para ser habitado e partilhado por aqueles que estão vivos. Nós mesmo o esgotamos. Na medida em que a história encontra o seu depósito na arquitectura, as cifras actuais da população vão inevitavelmente disparar e dizimar a substância existente. A identidade concebida como forma de partilhar o passado é uma proposta perdedora: não só existe – num modelo estável de expansão contínua da população – proporcionalmente cada vez menos o que partilhar, mas a história tem uma ingrata meia-vida – quanto mais se abusa dela, menos significativa se torna – até chegar o momento em que as suas decrescentes dádivas se tornam insultuosas. Esta rarefacção é exacerbada pela massa sempre crescente de turistas, uma avalanche que, na busca perpétua do “carácter”, tritura as identidades bem sucedidas transformando-as em poeira insignificante.

1.6. A Cidade Genérica é a cidade libertada da clausura do centro, do espartilho da identidade. A Cidade Genérica rompe com o circuito destrutivo da dependência, não é mais do que um reflexo da necessidade actual e da capacidade actual. É a cidade sem história. É suficientemente grande para toda a gente. É fácil. Não necessita de manutenção. Se se tornar demasiado velha, simplesmente autodestrói-se e renova-se. É igualmente emocionante – ou pouco emocionante – em toda a parte.
POST-IT CITY / CIDADES OCASIONAIS
Celestino Corbacho (tradução livre do texto original)

É impossível fazer a mesma fotografia de uma cidade num dia e no dia seguinte. Seria como aqueles passatempos em que temos de encontrar as sete diferenças entre as duas vinhetas aparentemente iguais, exactas, mas, de facto, distinguem-se diferenças que escapam à primeira vista. As cidades, na realidade, são, por definição e natureza, espaços de mudanças permanentes. As pessoas movem-se, deslocam-se, vão e vêm, nunca são sempre e exactamente as mesmas.
E a própria fisionomia dos espaços urbanos é variável e mutável: obras públicas e obras privadas, assim como actos e acontecimentos de todo o tipo, transformam a pele, a superfície, a aparência da cidade.
THE CITY DWELLER
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There is the vast amount of documentation on why people move to the suburbs. We know almost nothing, however, about why people do not move to the suburbs or, if they have lived in suburbs and now live in the city, why they changed their minds.


William H. Whyte says:
One thing is clear. The cities have a magnificent opportunity. There are a definite signs of a small but significant move back from suburbia. There is also evidence that many people who will be moving to suburbia would prefer to stay in the city - and it would not take too much more in amenities and space to make them stay.
LISBOA CAPITAL DO NADA
Marvila 2001
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TERRITÓRIOS DO NADA
Teresa Alves

Entre as diversas formas de organização do espaço emergem os não-lugares, espaços de passagem incapazes de darem forma a qualquer tipo de identidade, definidos por Marc Augé (1992, 1994) são espaços não-relacionais e onde a herança cultural dificilmente pode existir, mas mesmo assim são territórios vividos, se bem que de forma sofrida e, geralmente, em solidão. Vividos por indivíduos que em muitas situações desenvolvem fortes laços de solidariedade, são, no entanto, relações efémeras e voláteis, que existem enquanto aquelas pessoas permanecem naquele espaço e que tal como surgiram, acabam e desaparecem. Na medida em que o número de pessoas com ligações sociais de proximidade altamente precárias, tende a crescer em todos os países, os seus espaços de vivência tendem a expandir-se ocupando novas áreas, tendo deixado há muito de ser um fenómeno limitado aos centros das principais cidades.
A IMAGEM DA CIDADE
Kevin Lynch

Os elementos móveis de uma cidade, especialmente as pessoas e as suas actividades, são tão importantes como as suas partes físicas e imóveis. Não somos apenas observadores deste espectáculo, mas sim uma parte activa dele, participando com os outros num mesmo palco. Na maior parte das vezes, a nossa percepção da cidade não é íntegra, mas sim bastante parcial, fragmentária, envolvida noutras referências.
CIDADES INVISÍVEIS
Italo Calvino

A cidade (...) é feita (...) das relações entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do passado.
Mas a cidade não conta o seu passado, ela contém-no como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas (...) cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfuladuras.

A IMAGEM DA CIDADE
Kevin Lynch

As pessoas adaptam o seu meio ambiente
e constroem uma estrutura e identidade
daquilo que se lhes depara.

  Bairro de Palma  -  Lisboa 2010